sexta-feira, 26 de março de 2010

Se todos quiséssemos poderíamos fazer da Polícia Militar uma grande instituição

Se todos quiséssemos poderíamos fazer da Polícia Militar uma grande instituição

Plagiando Joaquim José da Silva Xavier: "Se todos quiséssemos poderíamos fazer da Polícia Militar uma grande instituição", mas não conseguimos nos entender e somar forças para trabalharmos juntos para este grande desafio.
Há muitas desigualdades a permear as relações hierárquicas e interpessoais, os fantasmas do passado rodam o presente, e muitos insistem em manter uma cultura segregacionista e violadora de direitos e garantias fundamentais.
As disputas e as relações de poder organizacionais em sua grande maioria são revestidas de vaidade, bajulação e subserviência, o que facilita o cinismo, a dissimulação e a falsidade contribuindo na deformação do caráter e da personalidade do profissional de segurança pública.
O favoritismo e a política do apadrinhamento vigora em quase toda estrutura organizacional, o que distorce as promoções para ascensão na carreira, fere as diretrizes para transferência que muitas vezes obedecem mais ao interesse do comando do que do policial militar e sua família, interferem nas designações de oficiais que preencheriam os requisitos para assumir determinada função, e acabam sendo preteridos em detrimento de interesses que em nada se identificam com a segurança pública.
O carrerismo exacerbado estimulado desde a formação nos cursos constituídos de degraus para ascensão profissional, provoca uma concorrência desleal e uma disputa irracional que afasta propositalmente o pretendente da atividade finalística colocando-o na busca por funções de maior prestigio e visibilidade que o franqueará acesso a autoridades e políticos que no sistema atual são mais prestigiados na influência para escolha dos promovidos, desconsiderando a validade de critérios objetivos de avaliação. 
O apartheid hierárquico,  originado  na história da criação da Polícia Militar, fragiliza e empobrece os laços afetivos e de solidariedade, culminando no distanciamento dos integrantes da instituição, o que reforça a divisão entre oficiais e praças, ativos e inativos, policiais do interior e da capital, e produz um sentimento de termos várias polícias em um só corporação.
Os princípios constitucionais e os marcos legais, que deveriam ser os balizadores da gestão de pessoal e das relações funcionais, são muitas vezes desconsiderados e relegados, o que possibilita a internalização da subcultura do descompromisso e da descrença nos objetivos institucionais.
A criatividade e a iniciativa são castradas e vistas como ameaça ao poder de planejamento e liderança, enfraquecendo a evolução e dinâmica interativa entre a administração e os administrados, dificultando ou até impedindo o desenvolvimento profissional, realçando a submissão como valor para ser bem sucedido e aceito pela chefia, transformando o homem num mero cumpridor de ordens.
O desenvolvimento e o enriquecimento intelectual, um instrumento para o engrandecimento de toda instituição não é incentivado, mas antes se caracteriza como um entrave e moeda de barganha aos que se sacrificam para este mister, pois a libertação e emancipação são abominadas na estrutura militarista que prega a obediência cega, como equivocado corolário para uma instituição forte e perene.
As escolhas e as mudanças estruturais muitas vezes imotivadas desobedecem a críterios e a metólogia científica capaz de atender a disposição territorial e administrativa desatendendo a um modelo de gestão racional e eficaz, o que eleva o custo e torna mais burocrática e acirra a excessiva verticalização da pirâmide da organização, tornando a mais lenta nas decisões de natureza estratégica, valorizando mais a hierarquia e consequentemente desvalorizando o talento e a inteligência.
A democracia participativa, atualmente uma ferramenta de gestão poderosa, sofre mitigação proposital, evitando o debate de ideias e a construção do consenso pela via do dissenso, por temor do enfraquecimento da hierarquia e disciplina, princípios que muitas vezes são subvertidos e manuseados ao humor do superior hierárquico. 
A cooperação e o trabalho de equipe, binômio para que as atividades desempenhadas sejam mais efetivas e qualitativas, são pouco estimuladas o que gera a sensação de isolamento e reforça a cultura do individualismo e do egoísmo na concorrência que passa a ser um mal que afeta a todos.
A ética que deveria ser o princípio primário nas relações internas, sofre uma intensa reconceituação que por vezes chega a desqualificação, quase sempre para atender a interesses corporativista segmentados, que em sua maioria se concentra nos circúlos com maior parcela de poder hierárquico.

Os procedimentos apuratórios, que deveriam ser a expressão da mais pura verdade, inocentando ou condenando com isenção e imparcialidade inequívoca  nas apurações dos possíveis desvio de conduta, por obra da doutrina de sempre haver um culpado para determinado ato ou fato disciplinar ou criminal, persegue metodologia inversa aos postulados do contraditório e da ampla defesa, e se compraz no caminho da responsabilização a todo custo, o que envereda para o constrangimento e para o desrespeito a dignidade humana, quase sempre influenciados pela autoridade que determinou a instauração do procedimento, tudo em nome da preservação da intocável disciplina castrense, que deveria ser pregada como um valor coletivo de responsabilidade de todos indistintamente.    
As regras de punição e recompensa são aplicadas de modo desarrazoavel e desproporcional, e não raras vezes de modo injusto e arbitrário, o que se leva a invocar e apelar ao poder judiciário, mas sem antes climatizar a revolta e a indignação que institucionaliza a desconfiança e o descrédito na instituição e nos seus dirigentes.
A capacidade de liderar e motivar são disciplinas inapreensíveis na formação o que ocasiona o desvirtuamento da função de comandar, proporcionando comandantes sem autoridade moral e disciplinar que corroí as bases para prestação de um serviço de segurança de qualidade ao cidadão e o estabelecimento da confiança reciproca. 
A opressão e a intimidação são usuais na tentativa de enquadrar os recalcitrantes, que ousam pensar e questionar, divergindo e opinando com fundamento em sua experiência e conhecimento, o que torna o profissional um ser apático, desinteressado e com forte tendência a sabotar os objetivos propostos.
Como vimos existe muitos vícios  a serem vencidos e uma cultura de forte apego patrimonialista e a efemeridade do poder impossibilitando as mudanças, a erradicação de abusos e desvio de poder, e uma estratégia que colaborasse no envolvimento e na participação do conjuntos dos policiais e bombeiros militares que sofrem de completa desilusão e perspectiva na profissão, vislumbrando tão somente o transcurso do tempo para sua passagem a inatividade.
A par de tudo isto é que reafirmamos que se todos quiséssemos poderíamos fazer da Polícia Militar uma grande instituição.
 
fonte: http://segurancacidadaniaedignidade.blogspot.com
eca

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