sábado, 14 de maio de 2011

O SOTAQUE DAS MINEIRAS


O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar...
Afinal, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo das moças de Minas ficou de fora?
 
 Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato, doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar:
- 'só isso?'.  
Assino, achando que ela me faz um favor...

Eu sou suspeitíssimo.
Confesso: esse sotaque me desarma.
Certa vez quase propus casamento à uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque.


Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas.
Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho
.
Não dizem: pode parar, dizem: 'pó parar'
Não dizem: onde eu estou?, dizem: 'onde queu tô.'
Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - lingüisticamente falando - apenas de uais, trens e sôs.



Digo-lhes que não.
Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço.
Pouco importa que seja um juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô.
Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de serviço.
Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem.
Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: 'cê tá boa?'.
Para mim, isso é pleonasmo.
Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário
...

Há outras.
Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada.
Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer:
 - Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc).
O verbo 'mexer', para os mineiros, tem os mais amplos significados
.
Quer dizer, por exemplo, trabalhar.
Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido.
Só querem saber o seu ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir.
Aqui ninguém consegue nada.
Você não dá conta.
Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz:
'- Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, sô.'

Esse 'aqui' é outra delícia que só tem aqui.
É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase.
É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer 'olá, me escutem, por favor'.
É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.

Mineiras não dizem 'apaixonado por'.
Dizem, sabe-se lá por que, 'apaixonado com'.
Soa engraçado aos ouvidos forasteiros.
Ouve-se a toda hora: 'sou doida com ele' (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro). 

Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, A MINEIRA.
Nada pessoal .Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas.

Por exemplo: em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer:
- 'Eu preciso de ir..'
Onde os mineiros arrumaram um tal 'de', aí no meio, tipo :
- Eu preciso de ir alí. Mas ó não me perguntem por que!
Mas que ele existe, existe.
Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório.


No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um ''tanto'' de coisa...
O supermercado não estará lotado, ele terá um ''tanto'' de gente.
Se a fila do caixa não anda, é porque está ''agarrado'' lá na frente.

Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará:
 '- Ai, gente, que dó...'

É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras...

Devo dizer também, que mineiro não arruma briga, mineiro 'caça confusão'. 
- Não vem caçar confusão pro meu lado''!   
 Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele ' vive caçando confusão'.

Ah, e tem o 'Capaz...'
Se você propõe algo a uma mineira, ela diz: 'capaz' !!!

Vocês já ouviram esse 'capaz'?
É lindo. Quer dizer o quê?

Sei lá, quer dizer 'ce acha que eu faço isso'!? - com algumas toneladas de ironia...

Se você dizer que é apaixonado pela Camila Pitanga, ela dirá:
 - 'ô tenho dó dôcê'.
Entendeu? Não? Deixa para lá.


É parecido com o 'nem...' . Já ouviu o 'nem...'?
Completo ele fica: '- Ah, nem...'    
O que significa?
Significa, amigo leitor, que a mineira que o pronunciou não fará o que você propôs de jeito nenhum.
Mas de jeito nenhum mesmo.
Você diz:
- 'Meu amor, cê anima de comer um tropeiro no Mineirão?'.
Resposta: 'nem...'
Ainda não entendeu? Uai, nem é nem
. 


Leitor preciso confessar algo: minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras.
Aliás, deslizes nada.
Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão.
Se você, em conversa, falar:
-'Ah, fui lá comprar umas coisas...'..
- Que's coisa? - ela retrucará.
O plural dá um pulo.
Sai das coisas e vai para o 'que'!

Ouvi de uma menina culta um 'pelas metade', no lugar de 'pela metade'.
E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa, confidenciará:
- Ele pôs a culpa 'ni mim'.


A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas...

Ontem, uma senhora docemente me consolou:
-'preocupa não, bobo!'.
E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras nem se espantam.
Talvez se espantassem se ouvissem um: -'não se preocupe', ou algo assim.
Fórmula mineira é sintética e diz tudo
.

E para terminar , até o tchau, em Minas, é personalizado.
Ninguém diz tchau, pura e simplesmente.
Aqui se diz:
-'tchau pro cê', 'tchau pro cês'.
É útil deixar claro o destinatário do tchau...

Porque, Deus, esse sotaque!
Mineiras deviam nascer com tarja preta avisando:
'ouvi-las faz mal à saúde'...

De tão gostoso que é 

autoria desconhecida
enviado por e-mail pela amiga Lúcia
eca

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